sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Escola Primária da Sé.



Esta foto veio ter comigo graças a uma ex-colega de Faro a quem muito agradeço.

Consegui reconhecer-me. Tal como à minha professora, Rosa Vieira, que continua igual passados 50 anos (ui, já?). Tal como à outra professora, a de óculos, Maria de Lurdes Reis, que foi professora da minha irmã. 

Tudo era diferente dos dias de hoje. A minha memória da escola primária não é de felicidade. 

Apesar de ser filha de uma das professoras, não deixava de apanhar réguadas por não ser sossegada, digamos assim. Acho que era boa aluna, com sofrimento na aritmética, sobretudo nos malditos problemas dos tanques que enchiam e cálculos de velocidades de comboios que até hoje nunca percebi para que serviam.

Parte das minhas colegas eram muito pobres, filhas de pescadores (a escola era a da freguesia da Sé, na zona antiga de Faro) e operários fabris, outras eram do chamado "asilo", presumo que um lar de miúdas órfãs. 


Lembro-me das batas brancas, do recreio, dos puxões de orelhas e do quente nas mãos provocado pelas réguadas, do tormento para decorar a tabuada, do medo do director que aparecia às vezes (o único homem no universo de mulheres, alunas e professoras), dos piolhos que de vez em quando apanhava e do sinistro exame da 4ª classe. 

E do vestido que usei no dia do exame, o calor desse dia e a dobra do papel, a dificuldade em fazer uma letra decente. 

Acho que a minha memória feliz só começa depois, no ciclo.
Caramba, sofria-se! Portugal era um país pobre e cinzento onde a liberdade e a alegria não cabiam.

Sem comentários:

Enviar um comentário