quinta-feira, 8 de junho de 2017

Lucca.

I

Há sítios onde chegamos e entram em nós como se sempre os tivéssemos conhecido. Passam a pertencer-nos. Imaginamo-nos a viver neles. Queremos ficar. Cheguei ontem à tarde e apaixonei-me. 


Há vinte anos que não vinha à Toscânia. A minha memória era a de grande beleza. 

Florença, Siena, San Giminano, o campo, a arte, o David, o renascimento, as pessoas, a comida, as torres. O fascínio das torres magras e muito altas de tijolo ou pedra que surgem da intensidade do verde.

Ontem, no percurso de carro entre Bolonha e Lucca, voltei a extasiar-me com a beleza da natureza e a construção do homem. 


Não sei se há zona no mundo com maior perfeição a todos os níveis. 


Não sabia nada de Lucca até começar a preparar esta viagem. Cidade antiga, medieval, torres e igrejas, muralhas, a terra de Puccini. Pensei que mais uma das muitas que já vi antigas e belas.


Mas Lucca é muito mais. A dimensão, a estrutura, a mobilidade, a antiguidade, a modernidade, as montanhas. Adoro estar rodeada de montanhas e perto do mar. 


Hoje estive na praia tendo atrás os picos impressionantes, ainda com neve, dos Alpes Apuane. Antes tinha visitado a montanha, umas termas e descoberto uma ponte única num cenário imbatível. 

Jantei ao ar livre sem casaco. E sem vento. Percorri ruas fascinada com a descoberta de casas, becos, janelas, igrejas, cantos e encantos. 


Tenho a certeza que se vivesse aqui seria feliz. E só cheguei ontem.


                                                                                                       28 de Maio de 2017

II

Quando a meio da manhã entrei na cittá pela Porta Elisa o calor já picava pelos 28 graus. Aqui não há o nosso ar atlântico para amenizar. O calor é seco e intenso, como na montanha. 


Fui pela sombra directa ao plano pensado ontem à noite. 

Subir a Torre Guinigi antes de aquecer ainda mais. Cheguei lá acima ensopada em suor mas ainda deu para refrescar com a brisa suave que se sentia. Nunca tinha visto uma torre, neste caso dum palácio, com árvores no terraço. Foi difícil sair daquele sítio. 

Só o facto de não ser só para mim acabou por me decidir a descer. Filmei e fotografei a perfeição e a beleza de que ontem já falei à exaustão. Nenhuma imagem transmite a sensação de estar ali, quase no céu, bem acima do casario, uma luz fantástica. 

Talvez só um drone testemunhe o mesmo mas com um ruído insuportável... e sem alma. Apetecia-me ficar a bisbilhotar cada casa, terraço, janela, ruelas, confirmar as igrejas e as zonas agora quase todas conhecidas. Desci sabendo que é pouco provável voltar. 

Cá em baixo, na rua, o sol picava implacável. Meti-me pela sombra até ao museu da casa de Puccini. Gosto tanto quando deixo de precisar de mapa. Era em cima, talvez no terceiro piso, a testa pingava-me. 7€ mal empregues porque foi uma desilusão, ou eu não sou fã do homem, prefiro outras obras. Valeu pela utilização da casa de banho. O meu grande drama das viagens. 

Ainda fui até à igreja de S.Frediano, bonita por fora, pagava-se lá dentro, ficou por ver.

Quase uma, sem sombra, fui almoçar à Piazza Anfiteatro. Cheia de turistas. Devia ter evitado e ter ido comer à osteria da Via della Fratta onde jantamos no sábado. 

Já tinha pensado alugar uma bicicleta para fazer o percurso em cima da muralha.

Lucca é uma cidade em que as pessoas estão primeiro, logo seguidas pelas bicicletas. Toda a gente anda. Idosos, novos, todos. Não a fazer corridas vestidos de lycra colorida. Mas sim super bem vestidos para se deslocar. 

Por 3,5€ lá biciclei uma hora em cima da muralha, descobri jardins e terraços, verde e verde, sem esforço. Que pasteleira confortável, adorei. Ainda entrei no centro, aparquei a bicicleta e fui ver o Duomo por dentro. Como quase sempre nestas igrejas gigantes de mármore, falta qualquer coisa. Lá se foram mais três euros que os italianos não são meigos a cobrar. Davam para outra hora de passeio. 

Devolvi a bicicleta, as lojas só abriam às quatro. Resolvi fazer os três quilómetros a pé até ao hotel e descansar à sombra até sair de novo pelo fim da tarde. Do quarto vejo os Alpes Apuane e basta-me.


                                                                                                          29 de Maio de 2017

III

Lá fui eu à última volta. Aluguei outra bicicleta e meti-me à estrada. 


Via Romana onde fica o hotel, fora da muralha, nuns carraboiçais sem graça, com trânsito a sério. Em Roma sê romano, foi o que fiz. Neste caso, em Lucca sê luccano. Senti segurança numa pasteleira mais que usada a contornar rotundas e a pedalar cabelo ao vento, que por cá ninguém usa capacete. 

Despedida da agora minha cidade preferida. 


Aparquei e percorri as ruas das lojas. Até do estilo das roupas eu gosto. Há coisas lindas, de linho, com números grandes. Há senhoras de idade lindas, roupas tão giras e nas suas bicicletas. Caramba, saio daqui inspirada! Porque é que nunca me lembrei de conjugar isto assim? 

Volto à bicicleta, pouso os sacos na cesta, alguém me pergunta onde ficam os correios. Quer dizer que passo por luccana, fico feliz. 

O sol queima mas hoje está mais fresco, 27 graus. Dou mais uma volta. Piazza de S. Michel, San Martino que é o Duomo, miro de novo a Torre Guinigi e a Torre del Oro.
Tenho que ir. Pedalo leve até à Porta Elisa, já não dou outra volta à muralha. Em dez minutos estou no hotel.


Chiao, Lucca! Quando for velhinha, venho para cá morar, sonho.

                                                                                                          30 de Maio de 2017










Sem comentários:

Enviar um comentário