quinta-feira, 29 de junho de 2017

Depois combinamos um cafezinho.

Esta frase, dita amiúde a amigos ou conhecidos num encontro ocasional, com a intenção sincera de vir a ser cumprida, raramente o é. 

Não por não o querer fazer mas porque os dias passam velozes, sempre há isto e aquilo, focados nos mais próximos, dificuldades de agenda, ou simplesmente inércia e nenhuma das partes toma a iniciativa de marcar o tal cafézinho. Não é por mal.

Um destes cafézinhos estava prometido a uma amiga recente, conhecimento de viagem, empatia mútua, longas conversas numa semana de dias e noites quentes pela Turquia. Conversas boas à noite, à volta da mesa, no fim dum dia de descoberta de outros mundos.
Amizade mantida depois no facebook onde nos íamos "vendo" e "conversando". 


Passaram três anos e não tomámos café, nem chá, nem conversámos ao vivo. Cada uma seguindo a sua vida, pseudo reconfortados pela partilha nas redes sociais?

A M. já estava doente quando nos conhecemos mas o seu bom humor e entusiasmo pela vida, o amor do marido e dos filhos, a felicidade de ter sido avó, faziam-me esquecer que aquela doença nunca falha, especialmente com os bons.

Deixei de a ver online e a minha pior suspeita confirmou-se. Fiquei muito triste, muito. Pela sua morte prematura, imerecida, injusta. Triste pelo encontro que não tivémos, pelo abraço que não aconteceu, um carinho adiado.

Triste comigo por não ter agido doutro modo. Gostava de ter voltado a encontrar esta senhora e o marido, termos conversado numa esplanada, recordado aquela viagem, partilhado pensamentos, despedindo-nos com a promessa de um outro futuro café mesmo sabendo que não iria acontecer. 

Sinto-me culpada.

Ao meu lado, nesta mesa, tenho uma folha com uma lista de contactos a fazer. 
Para combinar encontros, com ou sem café ou almoço, apenas saber da pessoa e conversar um bocadinho. 

Uma lista de pessoas de quem gosto, com quem partilhei momentos da minha vida e com quem deixei de me cruzar. Uma lista de pessoas que, quanto mais tempo passa sem lhes ligar, mais me custa fazê-lo. 

Olho a lista e, pela minha experiência, temo que a ausência de uma ou outra online não anuncie nada de bom.


Para a Manuela Castelhano com saudade e admiração 

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