domingo, 31 de dezembro de 2017

2017.

Mais um dia 31 de Dezembro. 
O tempo, sempre esse, parece que foi ainda mais veloz em 2017...

Acordo nostálgica. Parada. A olhar o vazio durante o pequeno-almoço, sem apetecer alterá-lo.

Menos por causa do último dia do ano, mais por ter tomado Flexiban ontem à noite. As dores na cervical estavam difíceis de suportar. Dormi no sofá até às tantas, depois na cama, e acordei sem força para as tarefas do dia. 

Ao lado, o meu marido está cheio de energia. Na cozinha, às dez da manhã já a preparar o jantar, todo contente. Gosta de cozinhar. Admiro-o.
Eu, de péssimo humor, protesto. Vai sobrar, há tanta gente a passar fome, é um desperdício, caramba, estamos de dieta, não podes parar um bocadinho? Responde-me com carinho e fico sem saber o que dizer.

Fujo para o sótão. Tenho saudades do vagar deste dia, quando, sem programa nem convidados em casa, vagabundava pela casa e me arrastava do pequeno-almoço para o computador, em pijama, para escrever.

Releio as minhas escritas deste dia que o Facebook trás. Textos que escrevi nos últimos anos e de que gosto. Exprimem o que penso, não há nada a acrescentar. Está lá tudo.

Sinto que em 2017 destreinei. Não pratiquei o suficiente. Fui desistindo. O que me faz sofrer. Desculpo-me com a falta de tempo sossegado, só meu, sem horas. Mas sei que não me disciplinei para o ter. O Facebbok, o Whatsapp, o Linkedin, ocupam tempo demais. Não gosto.

Passei boa parte do primeiro semestre a planear com entusiasmo a escrita dum livro. Estrutura, personagens, história. Tudo como aprendido e estudado. A história ainda quente na minha cabeça, a minha?

Quando pus a mão na massa, saíu tudo mal, sem qualidade. Antes de desistir, dei a ler a uma amiga com o pedido de sinceridade. O que aconteceu na resposta: podes fazer muito melhor, assim não dá. Falei com uma escritora cujos livros sorvi e fui percebendo que não pode ser como idealizei. Não é o destino. A verdade é que não li os clássicos gregos nem sei o suficiente de mitologia grega. Razão tem o Mário Carvalho que diz que é essencial.

Tenho esta coisa do livro pendente em mim desde pequena. Não sei exactamente com que idade, mas sei que foi antes dos treze, escrevi um livro de aventuras ao estilo dos Cinco. Numa sebenta, aliás duas. Quando viemos viver para Lisboa, foi para o lixo no meio de tantas tralhas que a minha mãe deixou para trás. Ainda hoje sinto um nó na garganta por ter perdido esses cadernos. 

Toda a vida, toda, a minha cabeça fervilhou com ideias e frases, histórias e pormenores, para o tal livro. Mas a vida, trabalho, filho, casa não deixavam espaço. E agora acho que estou demasiado feliz para o fazer. Ou tenho preguiça. Ou sou apenas realista. Há milhares de pessoas a escrever. É mais fácil contar pelos dedos quem não o fez. Decidi aproveitar o tempo para ler.

Tenho pena que o tema que queria tratar não apareça na literatura. Que eu saiba. 
Da forma que vivi. A vida das mulheres que trabalham em empresas, em Portugal, no século XXI. Não no Estado nem no Ensino. Mas no sector privado. Que não dão nas vistas. Que não têm poder. Que seguem invisíveis no seu dia-a-dia. Que são alvo de muita discriminação. Que persistem. Que fazem acontecer.

O livro, não a edição, a escrita, era um objectivo para 2017 que não alcancei. 

Deste ano, que acaba, também guardo outra angústia. A percepção que, no campo profissional, já não tenho valor. Que a experiência ou o saber num campo específico, que representou trinta anos da minha vida, não interessam nada hoje. 

Já o sabia, claro. Todos sabemos mas é diferente quando o sentimos na pele, quando o vivemos e percebemos que não há volta a dar à idade, à miserabilidade dominante, à falta de valores e respeito pelo outro que são a lei actual. Repugna-me.

Claro que podia ter que continuar a insistir mas posso escolher desistir desse mundo das empresas, dos negócios, do dinheiro, da vaidade. É também o mundo da interacção que me faz falta, dos desafios, do trabalho em equipa, do risco, do perder e ganhar que provoca adrenalina. 

Tem sido difícil esta percepção. Trouxe-me de volta uma raiva que julgava apaziguada. Por isso, se algum dia encontrar certas pessoas, voltarei a tentar dar-lhes um murro na cara. Mesmo que parta a mão. Quanto mais tempo passa, mais sinto que o merecem.

Estou aqui a escrever e entram no écran n notificações de jornais com balanços de 2017, previsões de futuro, avisos de que o presidente saiu do hospital (ah como me souberam bem estes três dias sem o ouvir), anúncios de chuva para o réveillon (brrrr). Plins plins de mensagens têm ecoado no smartphone. Vejo as horas e já estou atrasada para o que tenho que fazer. 

O tempo. Em Janeiro, daqui a quinze dias, faço anos. Muitos. Nunca pensei que seria possível eu ter esta idade. É tão estranho envelhecer... A minha mãe disse-me há dias, com uma grande amargura, que agora percebeu que já é uma idosa. Pois.

Quero que o tempo ande mais devagar para aproveitar o bom que tenho. Não queremos todos? Sinto uma afeliação interior pelo estado do mundo, da sociedade, das pessoas. Uma impotência terrível face ao caos instalado. A última esperança é que o tempo abrande.

Tenho saudades dos anos 60 em que nasci e se gritava nas ruas: Peace & Love ou  Make love, not war! É o que desejo para 2018.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Enjoar.

Estou farta. Enjoada. De tanta notícia. Falsa e verdadeira. 
Destrinçar. Procurar. Ler. Descartar. Separar o trigo do joio. Aturar. Indignar-me. 

Cansada.
Apetece-me fazer listas. Daquelas gosto e não gosto. 

Tenho um livro do Umberto Eco, A Vertigem das Listas. 
Gosto de papel. De livros. De os ter, coleccionar, ler. Só folhear e sonhar ler. Um dia. Já não terei tempo. De vida para o fazer. 
Quero ler e reler. Mas já não o consigo fazer com a rapidez de outrora. O meu filho lê dez livros enquanto me arrasto com um. 

Consegui ler A Sibila da Agustina. De novo. 
Consegui extasiar-me com a beleza e riqueza da sua escrita. 
Pensar que nunca o conseguiria fazer. Escrever bem. É demais. Confirmei a impressão da juventude. Chata... Mas gostei. 
As mulheres de Agustina. Independentes. Fortes. Acima dos homens mesmo quando se deixam subjugar. 
Foi publicado em 1954, escrito anos antes. 

Descobri palavras desconhecidas. Li sempre de lápis, sublinhando. 
Increpar. Fui ao dicionário ver: repreender, acusar, censurar (do latim, incre-pâre).
Esbagachados. Não está no dicionário da Porto-Editora. Está num tal de Wikcionário "com decote muito aberto, com o peito à mostra". Termo transmontano. 

Com a Agustina é assim. 

O contrário da escrita do comum dos mortais. Aprende-se. Perceber que se chegou a esta idade desconhecendo tantas palavras. Muitas são do norte. Desculpo-me. Sou do sul. Carepa! Dizia a minha avó. Ao sul.

Sociedade. Política. Vida. A verdade. A justiça. Cilindradas até mais não.

Os grandes dramas. Os grandes temas. Ficam ao lado. 

Publico uma imagem arrepiante duma criança a morrer de fome. Deitada num estrado dum pseudo hospital. Não sei exactamente onde. Presumo que no Iémen. Agoniza. Ninguém vê. Tenho poucos gostos. Ou manifestação de tristeza. Ira. Nenhum comentário. Invisibilidade. Total. Não gosto.

Como se lida com isto? Como com a morte. 
A vida continua. O tempo continua. 

É natal. Uma época que nos lembra a religião. Porque me espanto tanto com o comportamento humano? Não estava tudo lá no velho testamento que o novo veio atenuar? 


Redes. Sociais. Ou não. Discussão. Exaustão. Exposição. Estamos todos presos.

sábado, 14 de outubro de 2017

Ler Devagar e Comer à Algarvia.

Finalmente um sábado sem programa.
Resolvi ir tomar um café à Ler Devagar na Lx Factory, juntando dois prazeres num só: fazer exercício, caminhando (são cerca de 6km ir e vir a pé) e dar uma volta pela livraria e espaço Lx. Assim fiz.

Saí quase ao meio-dia, o tempo morno e quente. O cabelo num oito e, ainda nem tinha chegado ao Palácio de Belém, já me caiam pingos de suor da testa.

Na zona frente ao Jerónimos e pastéis, havia ainda mais gente que nos outros dias. Olho sempre com alguma incredulidade as filas ao sol, algo para mim impossível.

Por enfim, lá cheguei à Lx Factory pela Rua da Junqueira, lixando os pulmões com a fumarada dos carros e autocarros (para quando os eléctricos?)

Nunca sei se gosto ou não da LX Factory. Tenho sempre a mesma sensação: acho piada ao tipo de lojas, restaurantes e frequentadores mas nunca consigo sair de lá satisfeita. Foi o caso.

Na Ler Devagar, bebi um café e uma água, só tinham tostas e agora não como pão fora do pequeno-almoço. 

A livraria é linda mas funciona como monumento nacional, turistas a entrar e a fotografar, cabeças viradas para cima, aparvalhados. Não queria gastar dinheiro, dei uma volta rápida pelos livros da entrada, muitos tenho,quase caí na tentação de comprar um ou outro mas pensei na lista de espera gigante que não sei se algum dia o deixará de ser.
Saí. Percorri rapidamente as ruas e voltei a sair decidida a comprar qualquer coisa para comer no caminho. 

Arrepiou-me ver passar alguns turistas de bicicleta, descontraídos no meio dos carros e do empedrado e carris da rua mas talvez tenham sobrevivido até ao destino.
Perto do Egas Moniz, pensei comprar umas empadas no S. Bernardo mas havia gente demais e as ditas cujas desaparecidas. 

Não dá, faço uma salada em casa, meia-hora e estou lá.
Oitocentos metros à frente, reparo num espaço pequeno, a Marafada Mercearia. Entro sem perceber que dava para almoçar. 

Foi uma felicidade este encontro. Passo ali tantas vezes a pé, quase sempre à noite, não me tinha apercebido que se trata dum sítio muito simpático, restaurantezinho e mercearia de algarvias com sotaque :) De Olhão. Foi amor à primeira vista!

Pedi uma salada Desalvorada mas havia a Marafada e a Almariada e, só soube depois, ovos com tomate que espero ir lá comer para a semana. Que maravilha de salada! Bem sentada, abrigada do calor, a comer e a descobrir os produtos nas prateleiras. Atrás têm um pátio ao ar livre muito giro. 

Claro que não resisti a um morgadinho para acompanhar outro café. E a trazer um cesto e mais uns temperos. Tudo a preços muito acessíveis. 

Perguntei se tinham turistas, só lá estavam mais duas pessoas. Que não. Que naquele bocadinho passa pouca gente, que estão a contar com a abertura da nova passagem da edp (maat). 

Porque não pôr uma cadeira e uma mesa do lado de fora à porta e um quadro a dizer que há petiscos algarvios? 

Voltei a casa com uma sensação de bem-estar. Aquele sítio salvou-me do desencanto da Lx Factory onde sinto sempre um falso velho.

Ando tantas vezes arredada da minha terra. Gostei que tivessem produtos verdadeiramente algarvios e não aldrabados. Têm alfarrobas!

No próximo sábado vou lá comer os ovos com tomate.


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sexta-feira 13

Sexta-feira 13. Tenho uma amiga que diz que dá sorte e não azar. Ela lá sabe, é uma optimista, mas a verdade é que, até agora, o dia não correu mal. 

Fui caminhar ao fim da tarde. Enquanto ando, lembro-me de assuntos que gostava de partilhar, construo frases para textos que idealizo escrever um dia, observo a realidade à volta, relaxo.

Com a luz a esmorecer, o sol ainda quente bate-me nas costas. Transpiro na testa, claro. Lá se vai a lisura do meu cabelo conseguida com detalhe e secador esta manhã. Suor e humidade são a conjugação perfeita para ficar com o cabelo eriçado, se fosse só ondulado. Uma luta de sempre, perdida.

Há imensa gente dum lado para o outro, novos e velhos e médios. Oiço sobretudo espanhol e brasileiro mas também português. Ainda o ano passado atravessar a ponte pedonal junto à Torre de Belém, num dia de semana às seis da tarde, era um acto isolado que nem o das finanças. Actualmente, é preciso abrandar o passo para não tropeçar em ninguém.

No passeio à beira Tejo, junto ao padrão, até ao maat, gente e gente, em terra e no rio. Cada vez há mais barcos de todo o tipo. Bicicletas, trotinetes, coisas cujo nome ignoro, grupos. 

Voyez-vous ce palais rose là-bas? C'est le palais présidentiel, explica um sujeito para um grupo a olhar para o dito cujo, ou para o miserável espaço de pedras soltas daquilo que já foi uma calçada. A escassos metros, a rua está, desde há muito, ocupada por auto-caravanas, quase sempre de matrícula francesa ou espanhola. Um casal entardote bebe um copo de vinho junto à sua roulote, mesmo ao lado do trânsito e do barulho da avenida da Índia, instalados em duas cadeiras de praia.

Penso na diversidade do mundo, nas diferenças, na beira-rio que antes era só nossa. Gosto deste movimento na cidade. Em semanas, uma improvisada esplanada junto à estação fluvial de Belém cresceu. Hoje estava cheia de jovens castelhanos, ou seriam catalães?

Volto a pensar em como o mundo podia ser fantástico para todos. Será que aqui no nosso canto conseguiremos safar-nos dos conflitos anunciados por todo o mundo? 

Quando viro para regressar a casa já se sente fresco, uma neblina que cai sobre o rio, nada de nuvens que tragam chuva. 

Penso que gosto das notícias que ouvi sobre o orçamento de estado para 2018, será que é mesmo verdade que vão reduzir-se substancialmente os IVA e IRS para quem factura apenas 10 ou 15 mil euros por ano? Valores nem de gorjeta para os ex-donos disto tudo... 

Está quase a fazer quatro anos que saí da empresa, como o tempo passa! 

Que anos tão maus foram esses, marcados pela mesquinhez dum governo cujo primeiro-ministro e adjunta das finanças sentiam um especial prazer em humilhar e mal tratar quem estava desempregado, ou era velho ou simplesmente pobre. Sem necessidade como se vê pelo contraditório do actual governo.

Não branqueiem agora a acção devastadora para os portugueses de Passos Coelho e "sus muchachos"... Não quero esquecer nunca o mal que fizeram.

Atravesso o CCB com muito pouca luz. Ao passar numa montra quase não me reconheço com o cabelo curto. É quando me vem à memória "a vida não pára, a vida não pára"  cantado pela Lia Gama, no Fado do Kilas:

"E na roda do destino
nunca se sabe o que se nos depara
e os que ainda andam na mó de cima
têm que saber que a roda não pára
e fatalmente o fim se aproxima
a vida não pára"

Escola Primária da Sé.



Esta foto veio ter comigo graças a uma ex-colega de Faro a quem muito agradeço.

Consegui reconhecer-me. Tal como à minha professora, Rosa Vieira, que continua igual passados 50 anos (ui, já?). Tal como à outra professora, a de óculos, Maria de Lurdes Reis, que foi professora da minha irmã. 

Tudo era diferente dos dias de hoje. A minha memória da escola primária não é de felicidade. 

Apesar de ser filha de uma das professoras, não deixava de apanhar réguadas por não ser sossegada, digamos assim. Acho que era boa aluna, com sofrimento na aritmética, sobretudo nos malditos problemas dos tanques que enchiam e cálculos de velocidades de comboios que até hoje nunca percebi para que serviam.

Parte das minhas colegas eram muito pobres, filhas de pescadores (a escola era a da freguesia da Sé, na zona antiga de Faro) e operários fabris, outras eram do chamado "asilo", presumo que um lar de miúdas órfãs. 


Lembro-me das batas brancas, do recreio, dos puxões de orelhas e do quente nas mãos provocado pelas réguadas, do tormento para decorar a tabuada, do medo do director que aparecia às vezes (o único homem no universo de mulheres, alunas e professoras), dos piolhos que de vez em quando apanhava e do sinistro exame da 4ª classe. 

E do vestido que usei no dia do exame, o calor desse dia e a dobra do papel, a dificuldade em fazer uma letra decente. 

Acho que a minha memória feliz só começa depois, no ciclo.
Caramba, sofria-se! Portugal era um país pobre e cinzento onde a liberdade e a alegria não cabiam.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

11 de Setembro.

O dia 11 de Setembro de 2001 marcará para sempre uma mudança na sociedade ocidental construída após a II Guerra Mundial. 

A banalização do mal e a experimentação do medo fazem agora parte do nosso dia a dia sem que, enquanto conjunto, façamos alguma coisa para os combater. 


O individualismo exacerbado a que o modelo capitalista nos conduziu deixou-nos fragilizados e impotentes para intervir ou agir.

Parece que à medida que se desenvolve a ciência e a tecnologia, ficamos menos capazes e mais sós, numa indiferença alarmante. Até ser a nossa vez.


Dezasseis anos depois, as catástrofes naturais parecem querer ajudar à destruição do nosso modo de vida e organização social, talvez provocadas pela nossa própria incapacidade de as minimizar através da acção (tentar seriamente reduzir o aquecimento global, por exemplo).


O caminho da destruição anda por todo o lado e nós a fazer de conta que não é connosco. 


Assusta-me mesmo o não aprendermos nada com a história.


 

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Depois combinamos um cafezinho.

Esta frase, dita amiúde a amigos ou conhecidos num encontro ocasional, com a intenção sincera de vir a ser cumprida, raramente o é. 

Não por não o querer fazer mas porque os dias passam velozes, sempre há isto e aquilo, focados nos mais próximos, dificuldades de agenda, ou simplesmente inércia e nenhuma das partes toma a iniciativa de marcar o tal cafézinho. Não é por mal.

Um destes cafézinhos estava prometido a uma amiga recente, conhecimento de viagem, empatia mútua, longas conversas numa semana de dias e noites quentes pela Turquia. Conversas boas à noite, à volta da mesa, no fim dum dia de descoberta de outros mundos.
Amizade mantida depois no facebook onde nos íamos "vendo" e "conversando". 


Passaram três anos e não tomámos café, nem chá, nem conversámos ao vivo. Cada uma seguindo a sua vida, pseudo reconfortados pela partilha nas redes sociais?

A M. já estava doente quando nos conhecemos mas o seu bom humor e entusiasmo pela vida, o amor do marido e dos filhos, a felicidade de ter sido avó, faziam-me esquecer que aquela doença nunca falha, especialmente com os bons.

Deixei de a ver online e a minha pior suspeita confirmou-se. Fiquei muito triste, muito. Pela sua morte prematura, imerecida, injusta. Triste pelo encontro que não tivémos, pelo abraço que não aconteceu, um carinho adiado.

Triste comigo por não ter agido doutro modo. Gostava de ter voltado a encontrar esta senhora e o marido, termos conversado numa esplanada, recordado aquela viagem, partilhado pensamentos, despedindo-nos com a promessa de um outro futuro café mesmo sabendo que não iria acontecer. 

Sinto-me culpada.

Ao meu lado, nesta mesa, tenho uma folha com uma lista de contactos a fazer. 
Para combinar encontros, com ou sem café ou almoço, apenas saber da pessoa e conversar um bocadinho. 

Uma lista de pessoas de quem gosto, com quem partilhei momentos da minha vida e com quem deixei de me cruzar. Uma lista de pessoas que, quanto mais tempo passa sem lhes ligar, mais me custa fazê-lo. 

Olho a lista e, pela minha experiência, temo que a ausência de uma ou outra online não anuncie nada de bom.


Para a Manuela Castelhano com saudade e admiração 

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Bolonha.

I


Não sabia nada desta cidade para além do que se aprende em História e do que o meu filho me disse: "há muitos jovens". 

Comprei um guia em italiano quase sem fotos, bastante denso, que não consegui ler antes de chegar. Sabia que era uma cidade medieval. Só não sabia a dimensão, habituada ao nosso Portugal mínimo.

No primeiro impacte nem me apercebi mas, à medida que fui caminhando para o seu centro interior, percebi no que estava metida. O passeio da noite só deu para algumas ruas e praças, casas e torres, tudo construído pelos séculos XI e XIII, algumas reconstruções no século XIV ou XV. É impressionante. 

A mim fascina-me a construção desta época, a Alta Idade Média. Sem a sofisticação e elegância da Florença do Risorgimento, é muito bonita. Pareço uma tontinha a ver tudo sem saber para onde me voltar... 

Praticamente todas as ruas têm arcadas debaixo dos prédios, antigos e novos. 


Interessante também verificar como, apenas 90 km mais acima, tanto muda. Até a comida é diferente da toscana. Jantámos excelentemente no Ristorante Donatelo, que tem 114 anos. Não sabíamos, foi escolhido apenas por instinto e rápida observação dos pratos dos outros... 

2 de Junho de 2017


II

Gosto mesmo do café por cá. Quer dizer, gosto muito de café e aqui o sabor é mesmo muito bom. Tenho exagerado à conta do expresso ser tão curto que se vai em dois golos. Começo logo a manhã com quatro que são só oito golos. Também ajuda a dar energia para o caminho.


Hoje tracei um percurso que não desiludiu, antes maravilhou. Adoro percorrer ruas, descobrir sítios e surpreender-me com o desconhecido.

Bolonha surpreende pela dimensão da cidade antiga conservada. Os edifícios mais recentes - do século XV ou XVI - combinam com os originais trezentos anos mais antigos. Sempre com arcadas por baixo das quais se pode percorrer toda a cidade. Incrível mesmo.

Do muito visto hoje, adorei o conjunto da basílica de San Stefano. Primeira construção do ano 80 d.c. ainda romana. A piazza e ruas perto também são uma maravilha.

Inesperado foi entrar, quase por acaso, no regresso da Università, na Basílica di San Giacomo Maggiore e encontrar a capela Bentivoglio, da 2a metade do séc XV com pinturas belíssimas que fotografei à má fila. Também o fiz no oratório de Santa Cecília mas em ambos os casos foi só uma foto e sem flash. Como gostaria de viajar no tempo e passar por aqui há uns 600 anos atrás quando as igrejas e palácios eram todos pintados, colunas inclusive.

É giro vir pela via Zamboni e perceber a inclinação da torre Garisenda. E ficar a admirar os 97m da torre Asinelli.

Almoçámos muito bem numa trattoria super simpática mas, mesmo assim, pouco depois, à beira da basílica de San Domenico, tive que me esticar um bocadinho para aguentar o resto da volta. Foi agradável estar a ver o céu através da sombra das árvores que o calor continua imparável. 


Ainda visitámos o Palazo delll'Archiginnasio, belíssimo, onde funcionou primeiro a universidade de Bolonha. Pagámos bilhete dentro do palácio para ver o teatro anatómico que foi destruído em 1944 por uma bomba americana mas resconstruído como o original do séc XV. 

De resto, o turismo brutal da bela Firenze ainda não chegou e quase tudo é de borla e sem gente a mais.

Na rua, por todo o lado, há lojas locais e das grandes marcas e costureiros. Com montras deliciosas. Na via dell' Indipendenza parece que ninguém fica em casa. 

Ah, sabiam que existe um canal qual amostra de Venezia?

Imagino que à hora do jantar tudo acalme para ver o jogo Real Madrid - Juventus mas não sei.
3 de Junho de 2017


III

Os acontecimentos de ontem à noite em Londres e Turim não ajudaram a uma boa noite de sono. E o medo de andar de avião deixa-me sempre ansiosa antes de qualquer viagem, grande ou pequena. 

Por isso, a manhã de hoje foi de última volta por Bolonha mas sem a leveza habitual das férias. O facto de fazermos oito meses de casados ajuda a alegrar mas passar o check-in foi complicado com as meninas italianas da TAP a não perceberem os nossos nomes... já está.

O aeroporto é pequeno e está cheio sem lugares para sentar. Nós conseguimos dois num café e também sacar free wifi se não estava agora a ler o livro do Houllebecq que veio e vai na mesma. Não que não seja bom mas o corpinho tem andado enxalmado e adormece mal encontra a cama.

Esta manhã descobrimos mais três igrejas góticas fabulosas. Mais ruas e pracetas. E gente dum lado para o outro sempre. Sobretudo jovens e italianos.

À hora do almoço uma nuvem descarregou uma chuvada forte que deixou no ar cheiro a terra mas a temperatura não baixou dos 30 graus de toda a semana. Voltámos a almoçar no sítio de ontem, de novo bem. 

Gostámos muito da cidade e muito fica por ver. Deve ser gira no Inverno, com frio.

4 de Junho de 2017



quinta-feira, 8 de junho de 2017

Florença.

I

21 anos depois reencontrámos o Mamma Gina. Igual. Os mesmos empregados, a mesma decoração, a mesma comida boa.


Gostei de voltar. Para nós, foi um sítio especial no passado. Tal como toda a cidade. Já nem me lembrava da imponência dos monumentos, da beleza. De como ficamos esmagados quando nos aproximamos do Duomo ou entramos na Piazza della Signoria e vemos o Palazzo Vecchio. 

Amanhã tenho que conseguir rever o David original. Se o excesso de turistas deixar. Ah, o fim do dia no Arno...

30 de Maio de 2017






II

De manhã, mas não de madrugada, a fila para a bigleteria da Galeria della Accademia era compacta e dava a volta ao quarteirão... a fila para entrar era muito maior debaixo dum sol já implacável. 

Claro que seguimos caminho deixando para depois (quando?) a visualização do corpo de David magnificamente esculpido por Miguel Ângelo. O mercado central desiludiu mas deixamos escolhidos para amanhã tomate seco e sal rosa que tentaremos levar na mala no regresso. Procrastinação. 

Enquanto bebia outro café - o que gosto destes cafés - tracei no mapa um plano. Ir até Santa Croce, almoçar perto, atravessar a Ponte alle Grazie, subindo depois até ao Forte di Belvedere e descer pelo Palazzo Pitti. 

Assim foi mas não sem sofrimento. Os grupos imensos de turistas asiáticos são uma praga a que se juntam os outros milhares como nós. 

A cidade nos sítios mais visitados está muito suja. Só se consegue entrar nas igrejas menos conhecidas. Vimos uma manifestação por causa do excesso de turistas no centro histórico (ai, Lisboa).

Cumprimos o plano, embora atravessando na Ponte San Niccolo, mais longe. Não foi fácil subir até ao forte debaixo do calor intenso apesar dos chapéus e das garrafas de água.
 Quando lá chegamos, o forte estava fechado ao público. Restou-nos descer pelo Giardino di Boboli até à Piazza Pitti. A pagar, claro. Valeu o preço. 

Regressamos a casa - sim, estamos numa 'home in palace' - com as solas a doer...
Lindíssimo o interior da Basílica della Anunziata que fica na esquina da nossa rua.

                                                                                                         31 de Maio de 2017














III

Finalmente, o David original. Miguel Ângelo criou-o entre 1502 e 1504. Passaram mais de quinhentos anos. É impressionante de perfeição nos seus cinco metros de altura. 

Admiro tanto os criadores do Renascimento. O que seria de nós sem a arte? 

Não foi fácil chegar a David. Havia mesmo muito gente com o mesmo objectivo...
Última tentativa pelas cinco da tarde. Fila de apenas 40 minutos. Volto de barriga cheia, em todos os sentidos.


A propósito da perfeição do corpo de David, constato que os italianos, pelo menos nesta zona da Toscânia, se mantém magros e elegantes. A moda são calças muito estreitinhas em baixo, meio palmo de tornozelo à vista, sem meias, claro, e com sapatos de camurça.

São bonitos os homens de meia idade porque os mais jovens já se estragaram com a mania das tatuagens. 
Que seria de David se em vez de uma pele branca e macia, como a pedra transmite, tivesse os braços e as pernas cheios de desenhos escuros? E barba? 

Por falar em homens bonitos, há bocado vimos um tipo ser preso na rua com grande aparato policial. Vieram vários polícias, todos novos e de grande caparro, que o tal homem não se deixava prender e a coisa foi complexa. Constatei como eram bonitos apesar de não falharem as tatuagens. 


As nossas forças policiais também melhoraram mas ainda lhes falta uns 40cm na altura e o bronzeado permanente, ma non tropo.

                                                                                                          1 de Junho de 2017


Lucca.

I

Há sítios onde chegamos e entram em nós como se sempre os tivéssemos conhecido. Passam a pertencer-nos. Imaginamo-nos a viver neles. Queremos ficar. Cheguei ontem à tarde e apaixonei-me. 


Há vinte anos que não vinha à Toscânia. A minha memória era a de grande beleza. 

Florença, Siena, San Giminano, o campo, a arte, o David, o renascimento, as pessoas, a comida, as torres. O fascínio das torres magras e muito altas de tijolo ou pedra que surgem da intensidade do verde.

Ontem, no percurso de carro entre Bolonha e Lucca, voltei a extasiar-me com a beleza da natureza e a construção do homem. 


Não sei se há zona no mundo com maior perfeição a todos os níveis. 


Não sabia nada de Lucca até começar a preparar esta viagem. Cidade antiga, medieval, torres e igrejas, muralhas, a terra de Puccini. Pensei que mais uma das muitas que já vi antigas e belas.


Mas Lucca é muito mais. A dimensão, a estrutura, a mobilidade, a antiguidade, a modernidade, as montanhas. Adoro estar rodeada de montanhas e perto do mar. 


Hoje estive na praia tendo atrás os picos impressionantes, ainda com neve, dos Alpes Apuane. Antes tinha visitado a montanha, umas termas e descoberto uma ponte única num cenário imbatível. 

Jantei ao ar livre sem casaco. E sem vento. Percorri ruas fascinada com a descoberta de casas, becos, janelas, igrejas, cantos e encantos. 


Tenho a certeza que se vivesse aqui seria feliz. E só cheguei ontem.


                                                                                                       28 de Maio de 2017

II

Quando a meio da manhã entrei na cittá pela Porta Elisa o calor já picava pelos 28 graus. Aqui não há o nosso ar atlântico para amenizar. O calor é seco e intenso, como na montanha. 


Fui pela sombra directa ao plano pensado ontem à noite. 

Subir a Torre Guinigi antes de aquecer ainda mais. Cheguei lá acima ensopada em suor mas ainda deu para refrescar com a brisa suave que se sentia. Nunca tinha visto uma torre, neste caso dum palácio, com árvores no terraço. Foi difícil sair daquele sítio. 

Só o facto de não ser só para mim acabou por me decidir a descer. Filmei e fotografei a perfeição e a beleza de que ontem já falei à exaustão. Nenhuma imagem transmite a sensação de estar ali, quase no céu, bem acima do casario, uma luz fantástica. 

Talvez só um drone testemunhe o mesmo mas com um ruído insuportável... e sem alma. Apetecia-me ficar a bisbilhotar cada casa, terraço, janela, ruelas, confirmar as igrejas e as zonas agora quase todas conhecidas. Desci sabendo que é pouco provável voltar. 

Cá em baixo, na rua, o sol picava implacável. Meti-me pela sombra até ao museu da casa de Puccini. Gosto tanto quando deixo de precisar de mapa. Era em cima, talvez no terceiro piso, a testa pingava-me. 7€ mal empregues porque foi uma desilusão, ou eu não sou fã do homem, prefiro outras obras. Valeu pela utilização da casa de banho. O meu grande drama das viagens. 

Ainda fui até à igreja de S.Frediano, bonita por fora, pagava-se lá dentro, ficou por ver.

Quase uma, sem sombra, fui almoçar à Piazza Anfiteatro. Cheia de turistas. Devia ter evitado e ter ido comer à osteria da Via della Fratta onde jantamos no sábado. 

Já tinha pensado alugar uma bicicleta para fazer o percurso em cima da muralha.

Lucca é uma cidade em que as pessoas estão primeiro, logo seguidas pelas bicicletas. Toda a gente anda. Idosos, novos, todos. Não a fazer corridas vestidos de lycra colorida. Mas sim super bem vestidos para se deslocar. 

Por 3,5€ lá biciclei uma hora em cima da muralha, descobri jardins e terraços, verde e verde, sem esforço. Que pasteleira confortável, adorei. Ainda entrei no centro, aparquei a bicicleta e fui ver o Duomo por dentro. Como quase sempre nestas igrejas gigantes de mármore, falta qualquer coisa. Lá se foram mais três euros que os italianos não são meigos a cobrar. Davam para outra hora de passeio. 

Devolvi a bicicleta, as lojas só abriam às quatro. Resolvi fazer os três quilómetros a pé até ao hotel e descansar à sombra até sair de novo pelo fim da tarde. Do quarto vejo os Alpes Apuane e basta-me.


                                                                                                          29 de Maio de 2017

III

Lá fui eu à última volta. Aluguei outra bicicleta e meti-me à estrada. 


Via Romana onde fica o hotel, fora da muralha, nuns carraboiçais sem graça, com trânsito a sério. Em Roma sê romano, foi o que fiz. Neste caso, em Lucca sê luccano. Senti segurança numa pasteleira mais que usada a contornar rotundas e a pedalar cabelo ao vento, que por cá ninguém usa capacete. 

Despedida da agora minha cidade preferida. 


Aparquei e percorri as ruas das lojas. Até do estilo das roupas eu gosto. Há coisas lindas, de linho, com números grandes. Há senhoras de idade lindas, roupas tão giras e nas suas bicicletas. Caramba, saio daqui inspirada! Porque é que nunca me lembrei de conjugar isto assim? 

Volto à bicicleta, pouso os sacos na cesta, alguém me pergunta onde ficam os correios. Quer dizer que passo por luccana, fico feliz. 

O sol queima mas hoje está mais fresco, 27 graus. Dou mais uma volta. Piazza de S. Michel, San Martino que é o Duomo, miro de novo a Torre Guinigi e a Torre del Oro.
Tenho que ir. Pedalo leve até à Porta Elisa, já não dou outra volta à muralha. Em dez minutos estou no hotel.


Chiao, Lucca! Quando for velhinha, venho para cá morar, sonho.

                                                                                                          30 de Maio de 2017










quarta-feira, 3 de maio de 2017

Os cães.

Sofri muito em miúda com medo dos cães. 

Nunca percebi bem de onde me veio esse medo. Mesmo quando tivemos um cão, lá pelos meus dez ou onze anos, um pastor alemão inofensivo, que brincava comigo e com a minha irmã, às cambalhotas e aos saltos em cima da cama, nunca fui de intimidades. Tipo mexer no focinho, meter a mão na boca, lambidelas e outras marmeladas que vejo nos donos de cães, em maioria na minha família e amigos.

As bocas dos cães, cheias de dentes com caninos ameaçadores, sempre me meteram respeito. Já bem crescida, não era sem sofrimento que tentava mostrar à vontade quando jantava em casa duma prima rodeada por S. Bernardos gigantes que insistiam em instalar-se ao pé de mim e tentar meter o focinho no meu prato.

Cruzar-me com um cão no passeio foi um tormento toda a vida. Mesmo com o dono por perto a dizer "não morde", o receio não abrandava. Talvez por isso, os cães vinham sempre ter comigo, a cheirar-me e a saltar para cima de mim.

A minha vida está cheia de episódios de fugas e contornos, passagens entre os pingos da chuva.

Com o Miró em 2002
Foi preciso chegar aos quarenta e muitos, cinquenta, para conseguir lidar de perto com cães pacíficos como os golden retriever ou os labrador, muito graças ao cavalheiro Miró da minha amiga Manuela, ou, mais recentemente, graças à Miga ou à Pipa, cadelas de amigos, bem educadas que me deixam fazer festas e estar sentada à mesa relaxada. Até consigo esquecer-me que estão no mesmo espaço que eu.

Como todos os miúdos, o meu filho também teve um período em criança que queria ter um cão mas nunca aconteceu pois sei bem que sobraria para mim. Tratar, lavar, vacinar, passear, limpar o cócó, mimar, tudo o que implica. Para além de que a casa era pequena demais apesar de, no prédio, abundarem os cães, e grandes.

Ao mesmo tempo, sempre lamentei este meu medo porque um cão é uma grande companhia, um amigo fiel. Bem vejo o que se sofre quando eles morrem. Bem vi o consolo que foi para o meu pai a sua cadela Minnie quando ficou paralisado pelo avc.

Lambidelas amigas.
Na modernidade urbana de hoje, quase se contam pelos dedos da mão quem não tem cão ou gato. Para além de ser moda, também funcionam como substitutos das relações humanas. É bem mais fácil ter um cão que um namorado.

Há um crescendo de atenção aos animais em detrimento do ser humano que me espanta. Fico contente que tenham deixado de ser coisas mas convém que impere o bom senso. Quantas vezes vejo mais empenhamento em salvar animais da pobreza e do abandono do que pessoas.

Vencido o medo dos cães, já posso dizê-lo, continua a aterrorizar-me a existência de cães de raças perigosas. E haver quem os defenda como se fossem iguais aos outros.

Em Portugal, existem mais de 16 mil, segundo dados divulgados estes dias a propósito dos recentes ataques de cães a crianças. O número de ataques é elevadíssimo e inaceitável. Este ano, já morreram dois idosos vítimas de ataques de cães.

Por mim, defendo a proibição das raças perigosas. São espécies de comportamento agressivo, com mandíbulas de grande potência, muitas vezes resultantes de cruzamentos de raças entre si. A legislação obriga a que os donos tenham formação e eduquem os cães mas parece evidente que não é cumprida. 

Com tantos cães bons e bonitos, de raça ou rafeiros, muitos abandonados à procura de dono, o que leva alguém a escolher ter um cão de raça perigosa? Mostrar poder? 

Apesar destes factos não contribuírem para a superação do meu medo, ainda sonho ter um cão um dia destes.