segunda-feira, 8 de agosto de 2016

É Verão, Agosto.

É Verão, Agosto. 

Faz aquele calor excessivo que desejámos no Inverno, na Primavera e há umas semanas atrás quando o vento frio parecia persistir. 


Com mais ou menos percalços e dramas pessoais, a nossa vida segue, com conforto que chegue. Com mais ou menos bens materiais, mais ou menos condições, mais ou menos dinheiro, é Verão, vamos indo.

E o mundo também. Só sabemos dele o que aparece nos noticiários. Mais um atentado, um louco que invoca Deus para matar e ferir, mais umas trampas do Trump, mais pancadaria no Brasil nos protestos aos Jogos que Olímpicos já foram mais, mais umas ameaças económicas dos nossos donos que mais parecem vingança por falta de sol, mais fogos no país... cada vez mais banal esta lista. 


O mal banalizou-se. Já não precisamos invocar a Hannah Arendt nem o imaginário de Aldous Huxley. Já acontece. Já faz parte da nossa vida e estamos a aceitá-lo ainda com resquícios de rebelião, fraca e minoritária.


Quem não se indigna à mesa da esplanada, cerveja para refrescar, a praia no horizonte, os miúdos a brincar por perto, o trabalho adiado, petiscada marcada com os amigos?


Afinal é Verão, Agosto.


Li com dificuldade esta reportagem que a Liliana Palhinha partilhou chamando-nos a não ignorar. Com o calor custa mais ser solidário?


Talvez. Li, visualizando a vida no campo de Vial, na ilha grega de Chios, tal como visualizei a vida quando li O Admirável Mundo Novo. Com a sensação de ser possível mas com esperança que ainda não. 


Parece que a realidade nestes campos é muito pior que a descrita e imaginada, confirmam pessoas que lá estiveram. 

É Verão, Agosto, será que a nossa capacidade de indignação não consegue mais que uma passagem breve nas conversas?



The Chios Hilton: inside the refugee camp that makes prison look like a five-star hotel

"We are not here for European people to give us food. We don’t want just to be given food, or water. We are here for freedom. In Afghanistan we had some freedom, but our lives were not safe,” he said.
“You don’t know who is a terrorist, you don’t know where the terrorists are. 
“For me, it’s not important: Austria, Germany, Switzerland, Sweden. I only want to go to a safe country.”
Robert Trafford Chios, Greece Friday 22 April 2016



quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Da Coruña ao País Basco.


Foi com algum espanto que descobri o desenvolvimento da costa norte de Espanha, da Coruña ao País Basco, passando pelas Astúrias e Cantábria, descendo depois por Castela e Leão, em direcção a Portugal.

Senti sobretudo que eram cidades e locais focados na qualidade de vida das pessoas. Dos cidadãos. Dos habitantes. 

Infra-estruturas, apoios diversos para tornar agradável e fácil a vida do dia-a-dia.

Pode até não ser tanto assim mas foi o que experienciei. Mobilidade e acesso para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, permitindo-lhes grande autonomia.

Apoio a idosos e a crianças com facilitação dos espaços, bem cuidados e preparados, sem discriminar ninguém.

Vi novos e velhos na rua, a beber um copo e a comer umas tapas. É certo que sempre foi assim em Espanha, norte ou sul, mas agora senti-o muito mais, talvez por, apesar de todas melhorias das nossas cidades, não haver este convívio diário, feito por pobres e ricos, por toda a gente. 

Ninguém fica em casa.

Pude percorrer os centros destas cidades - fiz entre 8 e 10km a pé por dia, talvez mais - sem tropeçar em pedras soltas ou cair num buraco inesperado. 

Podia tê-lo feito de bicicleta com toda a segurança pois todas as cidades onde estive - A Coruña, Santander, Bilbau, San Sebástien, Vitória, Burgos e Salamanca - têm redes de ciclovia a sério, continuadas e respeitadas pelos condutores de veículos automóveis.

São cidades feitas para serem usufruídas pelos seus moradores. Dá gosto.

Alguém me dizia que os espanhóis vivem na rua e, por isso, têm que a ter tão confortável como um lar.

O clima nem sempre é aprazível mas isso não é obstáculo. Há subidas e descidas, colinas, algumas bem puxadas, como é o caso de Santander, onde as ruas mais inclinadas nas zonas antigas têm escadas rolantes para ajudar a subida.

Para além disto, a cultura. Especialmente no País Basco, a arte está nas ruas, nos jardins, faz parte da vida das pessoas. A arte em espaços abertos é uma das características de San Sebastián, podendo admirar-se obras de grandes artistas como Eduardo Chillida e Jorge Oteiza.

E a razão inicial da minha viagem, o Guggenheim de Bilbau que é espectacular. E o Museu de Belas Artes de Bilbau que é maravilhoso. Não desiludiram. Antes espantaram. Adorei.

E que dizer dos pintxos de Bilbau? Ou de San Sebastián

Gostei de tudo nesta viagem. A mistura perfeita do antigo e do moderno. 
Descobrir Burgos, rever Salamanca, conhecer Santander, voltar à Coruña, mas o País Basco é para voltar. 

Faltam as montanhas e a costa fora dos centros. Faltam Guernica e Portugalete e muito mais.

28 de Julho

Casámos no dia 28 de Julho de 1982. 

Eu era realmente uma miúda. Com apenas 22 anos. Foram anos bons, felizes. Nasceu o João. 

Este ano não pudemos trocar as nossas mensagens, os nossos telefonemas a recordar o dia, a lembrar como valeu a pena apesar de não termos ficado juntos. 


Que falta fazes, António!