sábado, 28 de março de 2015

O prazer do pequeno-almoço.

Não me lembro quando começou a ser um dos melhores momentos dos meus dias. Mas certamente há muito, muito.

O pequeno-almoço é um momento de absoluto prazer. 
De preferência, sozinha. A ler ou a escrever. Ou só a olhar a rua, em frente, e a pensar.

É assim. Acordo sempre esfomeada. Basicamente, o meu primeiro pensamento do dia vai para o café e as torradas, sentada na mesa da cozinha, a ler.


Só prescindo deste momento em casos excepcionais. Uma viagem de madrugada em que é preciso apanhar um avião às cinco da manhã, o que evito. Ou uma pressa extraordinária. Ainda assim, não saio sem comer alguma coisa, sem beber café. 

Fico furiosa quando alguém me interrompe. Despacho a pessoa, seja querida ou não, com uma desculpa qualquer para voltar ao meu lugar e continuar o pequeno-almoço. 

Quando tinha a casinha, ficava à mesa, lá fora, ao sol, a mesa por levantar, a preguiçar.

Em Lisboa, o meu tempo matinal, para me arranjar e sair, tem que contar sempre com meia-hora para o pequeno-almoço sentado. 

Tem que haver harmonia visual na mesa posta. Guardanapo a combinar com a loiça. Tem que haver estética. 

Tenho uma chávena fixa. Escolhida para combinar tacto, sabor e quantidade. Depois outra para o segundo café. Sim, porque bebo sempre dois.

Na minha frente, nos actuais dias de semana, o ipad, onde navego pelas notícias do dia, respondo a mails leves e passeio pelo facebook. 

Nos fins de semana, um livro. O livro do momento. Ou o jornal. Geralmente, ao domingo, a revista do Expresso que não tive tempo de ler no sábado.

Nos fins de semana, posso demorar sem culpa. Quando a minha mãe liga, já muito depois das dez, e pergunta o que faço, respondo "ainda no pequeno-almoço". Ela já sabe que é para desligar.

Hoje é sábado. Tenho programa, horas, o que já cria alguma pressão.

Ainda assim, há bocado, bebia o segundo café a ler "O planeta do Sr. Sammler" de Saul Bellow, o tempo a passar, e, de repente, pensei, quase com urgência: podem tirar-me tudo menos isto!

terça-feira, 17 de março de 2015

Chuva.

O velho Inverno voltou e o velho FMI descobriu que os gestores em Portugal são maus. Que não há debate nem reformas nem mudanças estruturais. 

Algo que nós, simples pessoas, já sabemos há muito e fomos dizendo no meio da turbulência dos muitos últimos anos. 

Mas não deixa de ser divertido, se não fosse trágico para as nossas vidas, acordar com esta noticia das declarações do FMI. 

Até parece que, apesar de toda a propaganda concertada do poder, os factos e os credores vão tirando o tapete e revelando as fragilidades que sabemos.


No mesmo noticiário, um qualquer rapaz secretário de estado, assim para o aflito, apelava à participação das empresas nos concursos a novos fundos europeus destinados aos velhos e vazios chavões "inovação, empreendedorismo e competitividade" não percebendo a moribundidade do sistema. 


Esperamos que não aconteça mas prevejo que, à semelhança do passado, não tenhamos capacidade para utilizar devidamente esse dinheiro.