terça-feira, 18 de março de 2014

Transitados

Nestas andanças para construir um novo modo de vida, os outros, conhecidos e amigos, quando nos telefonam ou encontram, perguntam com ar grave se estamos bem. O mesmo tom de “estás bem” que todos fazemos quando enfrentamos alguém que sabemos estar com uma doença grave.

Muitas vezes, é com um certo constrangimento que respondo que sim, que estou óptima, mais calma e mais feliz. Esta última parte da resposta fica condicionada conforme o interlocutor. Há quem não perceba como se pode estar feliz sem salário, sem cargo vip, sem carro correspondente, sem estatuto e sem futuro. Não é por mal. Talvez só experimentando.

Eu própria, ao escrever isto, hesito e penso que estou a ser irresponsavelmente optimista. Principalmente, no contexto actual.

A verdade é que a minha “visibilidade”, como se diz na gíria, é bastante limitada. Quando refiro que acho que me aguento uns anos e depois não sei, faz-se um silêncio embaraçoso, tal como o que se faz em relação às pessoas com cancro. Pois não se sabe quanto tempo lhes resta mesmo em cenários optimistas.



Dedico parte do tempo a ler textos publicados no Linkedin, ou em publicações internacionais que sigo, sobre pessoas em transição, criação do próprio emprego, dicas para ter sucesso em entrevistas, coachings variados e outros sobre o mundo e a sociedade.

É bom e mau saber que somos muitos “em transição” ou apenas já transitados. Bom porque provoca um sentimento de solidariedade que anima a seguir em frente. Mau porque se percebe que o sucesso será para poucos, como em geral na vida.

De qualquer modo, tenho aprendido coisas interessantes mas, sobretudo, confirmado, com um sorriso interior de satisfação, que muitas coisas que intui são recomendadas e outras que pratiquei estavam certas. Isto evita sentimentos de culpa em relação ao passado do género “ah se tivesse feito doutra maneira, não tivesse dito assado, teria comido cozido”.

Claro que esta ambiência, retirada das redes sociais e do networking retomado, que cria uma certa fé na possibilidade de ser feliz mesmo sem salário alto, prémios indexados aos resultados, smartphone e tablet do último modelo e outras benesses de quem tem trabalha numa grande empresa, pode vir a revelar-se uma fraude. Ainda não tenho a certeza de nada.


1 comentário:

  1. aprendemos a viver 1 dia de cada vez com humildade...ficando feliz com o sol, 1 chocolate ou o sorriso de 1 criança...

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